segunda-feira,
11 de novembro de 2024

Novos casos de HIV/Aids aumentam 60% em 10 anos no ES

Redação

 

O Espírito Santo registrou, nos últimos 10 anos (2011-2021), um aumento de 60% dos novos casos de HIV/Aids. Os dados constam no Boletim Epidemiológico de 2022, divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesa). Para fins de estatística, são considerados os casos em pessoas acima de 13 anos. 

 

No ano passado, foram registrados 1.171 novos casos, sendo 75,4% (883) de pessoas do sexo masculino. Entre homens, a faixa etária com a maior proporção foi a de 20 a 29 anos, representando 39% dos casos. A principal categoria de transmissão continua sendo a via sexual (81,6% dos casos).

 

Segundo o boletim epidemiológico, considerando o número de casos novos por 100 mil habitantes, em 2021 o indicador estadual de detecção da Aids foi de 28,5%. No entanto, em alguns municípios esse percentual ficou acima: Vitória (50,9%), Vila Velha (67,4%), Serra (53,3%), São Mateus (44,6%), Conceição da Barra (31,8%), Montanha (42,2%) e Colatina (30,6%).

 

Isso não significa, necessariamente, que esses municípios possuem mais casos. A razão das taxas mais elevadas pode ser o maior acesso à rede de saúde e, consequentemente, maior realização de exames e maior número de diagnósticos, explica a médica e técnica da Coordenação Estadual de IST/Aids-Sesa-ES, Bettina Moulin Coelho Lima.

 

Transmissão

 

A Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV é a sigla em inglês). Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças.  

 

O HIV pode ser transmitido no contato direto com sangue ou fluidos corporais de pessoas infectadas pelo vírus, como sêmen, fluidos vaginais, leite materno ou pré-ejaculatórios (na relação sexual sem camisinha), compartilhamento de agulhas e seringas, doação de sangue ou na gestação, trabalho de parto/parto ou pelo aleitamento materno.

 

Para que as pessoas tenham mais consciência sobre a doença e as formas de prevenção e tratamento, comemora-se em 1º de dezembro o Dia Mundial de Luta contra a Aids.

 

Sintomas e tratamento

 

De acordo com Betina Lima, a grande maioria das pessoas não tem qualquer sintoma. “Uma pessoa com o vírus – “soropositivo” – tem o vírus, pode transmitir o mesmo, sem qualquer sintoma. Após um tempo, a pessoa contaminada, sem tratamento, o vírus atacando as células de defesa, a pessoa pode começar a adoecer por falta das suas defesas naturais, e ter as ditas ‘doenças oportunistas’, como tuberculose, algumas formas de pneumonia, emagrecimento etc.”, afirma a ginecologista. 

 

Apesar de ainda não haver cura para a doença, há muito o que ser feito para controlá-la. “A partir do momento em que a pessoa tem o diagnóstico, já inicia o tratamento com medicação, que geralmente é esquema de 3 drogas diferentes. Pode não ter efeito colateral, mas pode haver dificuldade para dormir, dores de cabeça, diarreia, náuseas, fadiga, tontura e dor nas articulações dentre outros”, afirma a médica.

 

Bettina Lima destaca ainda que, com o tratamento adequado, é possível ficar com carga viral não detectada. Assim, com o vírus não atacando as células de defesa, a pessoa leva uma vida normal, inclusive não transmitindo o HIV para outras pessoas.

 

Aids e gravidez 

 

Quando a pessoa está com carga viral não detectada não transmite o HIV, mesmo nas relações sexuais sem preservativos. Mas, por exemplo, se  uma mulher soropositiva quiser engravidar e estiver se relacionando com um soronegativo, “a pessoa que não tem o vírus deve tomar medicação (profilaxia pré-exposição, PReP)”, alerta a médica. 

 

Outra situação relatada pela ginecologista envolve um recém-nascido, filho de mãe soropositiva. Nesse caso, com a gestante em tratamento e carga viral negativa e o bebê usando medicação antirretroviral durante 28 dias imediatamente após o nascimento, e não havendo aleitamento materno, a chance de se transmitir o vírus HIV para o recém-nascido é menor que 1%, segundo Bettina Lima.

 

Preconceito e situações de risco 

 

Bettina Lima observa que o preconceito ainda existe e dificulta o tratamento adequado. “Muitas vezes o sofrimento da pessoa é maior devido ao preconceito do que com a própria doença. Isso pode fazer com que a pessoa não busque atendimento ou não tome medicação adequada para tentar esconder sua situação”, pontua

 

A médica alerta que não há que se falar em “grupos de risco”, mas sim de pessoas que têm maior vulnerabilidade devido à troca frequente de parcerias sexuais, relações sexuais desprotegidas ou exposição a situações de risco.

 

Mitos e Verdades 

 

Indagada, Bettina Lima esclarece dúvidas quanto à Aids e às formas de prevenção.

 

O HIV pode ser transmitido por compartilhamento do vaso sanitário, maçanetas ou banco de ônibus quente 
Mito. O vírus HIV não é transmitido através do contato com objetos não perfurantes, como vaso sanitário, assentos de ônibus ou metrô. Beijo, abraço ou aperto de mão também não transmitem o vírus. O HIV pode ser transmitido pelo sexo, pelo sangue, na gravidez, no parto ou na amamentação.

 

A camisinha é a única forma de prevenção ao HIV
Mito. A camisinha é o método mais completo, porque previne o HIV, as outras infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez. Mas, quanto ao HIV, podemos citar outras três formas, a PEP, a PrEP e o tratamento como prevenção. 

 

Mesmo o teste tendo o resultado negativo, ainda pode ser que eu tenha HIV
Verdade. O teste não consegue acusar a infecção logo no começo, porque ele detecta os anticorpos que o corpo produz para se defender da infecção. Esse período inicial que o teste não consegue detectar é chamado de janela imunológica. Para os exames que usamos geralmente no SUS, a janela é de cerca de 30 dias. Ou seja, se sua última situação de risco foi há mais de 30 dias, então você pode confiar que o resultado é negativo mesmo. Porém, se foi há menos de 30 dias, é preciso que se completem 30 dias para repetir o exame.

 

Fiz sexo sem camisinha ontem e me arrependi, pois posso ter entrado em contato com o vírus. Só me resta esperar 30 dias para poder fazer o teste
Mito. Hoje temos a PEP (profilaxia pós-exposição). A pessoa que transou sem camisinha e acredita que possa ter entrado em contato com o vírus pode procurar a PEP, um tratamento preventivo de urgência que deve ser iniciado em até 72 horas após a relação sexual e que dura 28 dias.

 

A pessoa com HIV sempre transmite o vírus pelo sexo
Mito. O HIV não é transmitido quando a pessoa está se tratando e com o HIV controlado há pelo menos seis meses – ou seja, tomando as medicações diariamente e com o exame de controle chamado carga viral (que mede a quantidade de vírus no sangue) com resultado ‘indetectável’. Isso se chama “tratamento como prevenção”, e o lema utilizado para comunicar isso é “indetectável=intransmissível”. Não temos dados para dizer que o mesmo se aplica à amamentação e continua se recomendando que mulheres com HIV, mesmo estando indetectáveis, não amamentem.

 

Eu já tentei muito, mas não consigo transar com camisinha 100% das vezes e tenho risco de me infectar. Só me resta esperar o dia em que vou adquirir o HIV
Mito. Desde o começo de 2018, o SUS oferece uma saída para essas pessoas. A PrEP (profilaxia pré-exposição), que é um medicamento diário que protege a pessoa mesmo que ela entre em contato com o vírus. Para ter a PrEP, a pessoa precisa estar em acompanhamento médico a cada três meses, fazendo exames periódicos de controle.

 

Pessoas com HIV podem ter filhos normalmente sem que esses tenham HIV
Verdade. A mulher vivendo com HIV que se trata e está com a infecção controlada reduz drasticamente a chance de transmitir o vírus para o bebê na gravidez ou no parto. Se a pessoa que tem o HIV é só pai, existem dois métodos preventivos que permitem que a mulher engravide sem adquirir o HIV – o tratamento como prevenção para o pai, combinado ou não ao uso da PrEP (profilaxia pré-exposição) pela mãe.

 

Tenho uma parceria sexual fixa, não corro risco de pegar o HIV
Mito. Tendo parceria fixa reduz a chance, mas, se não fizer o teste, não tem como saber se a pessoa tem o vírus. É muito importante conversar sobre o assunto, e ambos fazerem o teste, para realmente não correrem o risco.

 

Rede estadual

 

Testes rápidos para HIV são fornecidos pelo Ministério da Saúde e distribuídos a todos os municípios para diagnóstico. Segundo Bettina Lima, a frequência desses testes depende do estilo de vida e cuidados que cada a pessoa tem. “Algumas pessoas deve fazer o teste a cada 6 meses ou anualmente. Outras podem ter a indicação de fazer com menor ou maior frequência. O mais importante é se cuidar”, alerta.

 

Medicação antirretroviral para tratamento do HIV/Aids bem como medicação para tratar doenças oportunistas e para profilaxia pré-exposição e pós-exposição também estão disponíveis na rede pública de saúde.

 

O Lacen, laboratório de referência estadual para análises das áreas de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental, realiza exames específicos para contagem de carga viral.

 

De acordo com a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, existem 32 Serviços de Atendimento Especializado (SAE) Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) distribuídos por todo o Estado. 

 

Também existe a Rede Nacional de Pessoas que vivem com HIV/Aids, com representações no Estado, além de ONGs, como a Associação Capixaba de Redução de Danos (Acard-Vitória), a Associação Grupo Orgulho, Liberdade e Dignidade (GOLD-Vitória), além do Centro de Apoio ao Cidadão/Serra (CAC), que é uma Casa de Apoio e mantém inclusive internações.  

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