Foto: Iago Miranda
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Iago Miranda
Há 500 anos, no dia 31 de outubro, o monge Martin Lutero daria um passo que mudaria a história da religiosidade cristã no mundo. O início da Reforma Protestante, na Alemanha de 1517, será celebrado com júbilo por cerca de 87 mil luteranos em todo Estado, com direito a um culto especial, em Campinho, Domingos Martins, a partir das 14hs.
Com presença em todo território capixaba, a religiosidade luterana veio com os imigrantes alemães que se afixaram na então Colônia de Santa Isabel, a partir de 1847.
“Foram muitas restrições enfrentadas, mas isso ajudou a nossa fé crescer”, afirma o pastor da Paróquia de Confissão Luterana de Domingos Martins, Eloir Ponath.
Ele se refere à legislação brasileira, que na época do Império invalidava casamentos luteranos e não permitia sequer a construção de templos com aspecto de Igreja. “Nossa Igreja parecia um galpão”, complementa.
Mesmo diante do desafio de viver em um Estado não-laico, no qual se recorria à queima sumária de livros e à prisão de pastores por suspeita descabida de associação ao nazismo, os luteranos contribuíram largamente em áreas importantes como educação, saúde e cultura.
“Praticamente todas as cidades nas quais chegamos nós construíamos também hospitais e atendíamos os doentes em casa, numa época quase inóspita”, revela pastor Eloir.
O comerciante Ilmar Lampier, 62, luterano de berço em Domingos Martins, complementa: “Onde tinha uma Igreja luterana tinha também uma escola. Além disso, a preservação cultural da tradição alemã sempre foi muito forte. O festival Sommerfest de Campinho nasceu disso”.
De fato, a preferência pela educação remete a Lutero, o primeiro a traduzir a Bíblia do latim para alemão. Em face do analfabetismo, ele precisou empreender um caminho longo de ensino ao povo, que não lia na língua materna.
“Nossa maneira de manter a tradição deve muito à formação cristã continua, pela qual o luterano é convidado a se lançar na ação social”, garante pastor Eloir.
Em relação ao evento do dia 31 de outubro, o presidente paroquial da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), o economista Nélio Hand, 42, explica:
“Trata-se de um evento muito importante, porque as duas denominações luteranas estão unidas para celebrar e promover uma aproximação entre elas”.
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O zelador Edgar Klipel, 63, ao lado da Igreja Evangélica de Confissão Luterana, em Campinho, o primeiro templo protestante a construir uma torre no Estado. (Foto: Iago Miranda) |
O que foi a Reforma Protestante:
A Reforma Luterana (ou Protestante) teve origem na cidade de Witternberg, na Alemanha. O marco do movimento foi 31 de outubro de 1517, quando Lutero, na época monge católico, publicou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, em protesto contra diversos pontos da doutrina da Igreja e sugerindo mudanças.
Entre os pontos explorados por ele estavam a noção de que Deus perdoa de graça a quem crê em Jesus Cristo, isto é, que não se podia comprar o perdão de Deus ou conquista-lo por méritos próprios. Essa nova orientação ia de encontro à cobrança de indulgência que acontecia na época.
Como se posicionou a Igreja Católica:
Durante séculos negou as mudanças propostas por Luteno, que foi excomungado em 1521, por papa Leão X. Porém, em 1999, o papa João Paulo II reconheceu, através da Declaração Conjunto sobre a Doutrina da Justificação, as contribuições do monge alemão.
Atualmente, existem duas denominações de igrejas luteranas, a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil. São poucas diferenças entre elas, como a ordenação de mulheres e vieses mais ou menos ortodoxos na interpretação da doutrina deixada por Lutero.