Alçado à Presidência da República em um período extremamente conturbado, em consequência de um Impeachment pra lá de turbulento, de uma presidente mais do que odiada, Michel Temer também não dispunha de um capital muito invejável de popularidade para gastar. Desconhecido para muitos, visto com desconfiança pela nova direita que se forma, odiado pela esquerda, que o vê como um golpista traidor, Temer só podia contar com as esperanças de uma parcela significativa da população, que não sendo da turma do “quanto pior melhor”, apenas gostaria de ver o País voltar ao mínimo de racionalidade econômica.
Isso e mais um significativo apoio parlamentar, cimentado por anos de articulação como deputado e vice-presidente, e pelas velhas promessas de sempre de divisão de cargos e verbas. Com tão frágeis apoios, o Presidente ainda teve que lidar com uma onda de escândalos que está longe de acabar, a qual ceifou alguns dos seus principais colaboradores, uma tentativa de antecipar as eleições presidenciais, fora a cruel crise econômica, que longe de acabar, reduziu ainda mais sua popularidade. Realmente, ser Temer nesse momento, não me parece tarefa fácil.
Mas talvez por isso mesmo, Michel Temer, em cuja carreira de advogado, constitucionalista e político, jamais demonstrou arroubos carismáticos ou projetos políticos gloriosos e reformistas, seja o homem talhado para fazer o tipo de reforma de que o País necessite. Talvez Temer, justamente por não disputar uma eleição em 2018, seja a pessoa certa para mandar a popularidade às favas e realizar as dolorosas reformas sem as quais esta Nação não tem nenhuma perspectiva de futuro.
Sim, pois não se engane o leitor: O controle constitucional dos gastos públicos (já aprovado), a Reforma da Previdência (em trâmite no Congresso), e as Reformas Trabalhista e Tributária (sem proposta definida), são ao mesmo tempo fundamentais para o País a médio e longo prazo, mas de uma dor imensa para o mesmo País no curto prazo. Mesmo a Reforma do Ensino Médio (estabelecida por MP) atinge interesses corporativistas. Essas Reformas são o duro preço a pagar (especialmente pelos mais pobres) por nosso futuro. E não ajudam a carreira política de ninguém preocupado com eleição. Se realmente estiver preocupado em governar para a próxima geração e não para a próxima eleição (como parece ser o caso), Temer terá o desafio de sobreviver ao fogo amigo e inimigo da política, aos desdobramentos da Lava Jato e ao desafio de fazer as reformas mais importantes e mais odiadas da história do Brasil em um ambiente hostil. É tarefa pesada. Mas é também tarefa gloriosa. Daquelas de colocar o nome da Pessoa na História, ou enterrar de vez..