“Beatriz Fraga falou sobre a importância de abordar um tema que enfrenta preconceitos entre homens e mulheres”.
Às vésperas do Dia Internacional da Mulher, o município de Cachoeiro de Itapemirim promove programação para propor reflexão sobre a violência que atinge o público feminino. Nesta segunda (6), a mestra em educação, especialista em Diversidade e Gênero e professora universitária, Beatriz Fraga, tratou do tema na palestra “Da morte simbólica à física. Cachoeiro reage ao feminicídio”.
Realizada na Sala Levino Fanzeres, na sede da Prefeitura, a atividade integra série de eventos organizados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social em comemoração ao 8 de março.
Em entrevista, a palestrante falou sobre a importância de abordar um assunto que enfrenta preconceitos e que precisa ser debatido ante os números alarmantes de assassinatos de mulheres, principalmente no Espírito Santo, um dos estados no topo do ranking brasileiro quando se trata desse tipo de crime.
Por que falar sobre o feminicídio?
É uma realidade tão degradante que é preciso falar. Não é uma moda. Esse é um crime de ódio, por uma questão de gênero e isso é inquietante. Só pelo fato de a vítima ser mulher, de estar em vulnerabilidade. O dispositivo jurídico sobre o feminicídio nasceu no México, lugar em que eram registrados índices assustadores de mortes de mulheres com alta brutalidade: estupros, mutilações, asfixia, estrangulamentos, com armas brancas. Nesses crimes, os agressores estão próximos às vítimas. São bárbaros.
É gerada pelo machismo? A mulher de hoje ainda é machista?
Sim. Nossa cultura é patriarcal e permite a naturalização dos atos de violência pela sociedade. As pessoas fingem que não estão acontecendo. Há uma cultura falocêntrica, que permite ao homem certas práticas e isso cria uma questão bem ampla. Os problemas vão desde a mulher ser menosprezada, humilhada, tratada como posse do marido, até o próprio assassinato.
A violência contra a mulher é histórica. Mas você acha que essa situação hoje registrada, com tantos casos graves de violência contra a mulher, acontece porque agora elas têm mais acesso à possibilidade de denunciar ou é porque os homens se sentem intimidados frente ao empoderamento feminino?
As duas coisas. Em 2008, li uma matéria sobre a crise do masculino e me interessei. Muitos não estão sabendo lidar com a mulher que questiona, que reivindica o próprio espaço. Dados brasileiros, obtidos no Instituto Patrícia Galvão, mostram que a maioria dos lares são geridos e sustentados por mulheres. Frente a esse panorama, alguns homens perderam a ideia do seu real papel na sociedade. É uma espécie de crise identitária, que, na verdade, é um fenômeno que não começou agora, mas vem de muito tempo.
Como reagir contra isso?
Criar redes de apoio às vítimas, porque as políticas públicas ainda são frágeis. Formar coletivos femininos para discutir as situações que são muito complexas, pois, na violência, a mulher passa de vítima à ré, e é julgada pela roupa, pelo padrão de comportamento. Formar e capacitar profissionais que lidam diretamente com o público feminino. Fomentar espaços de palestras, de interlocuções. Criar parcerias entre as redes privada e pública para detectar quais são os tipos de violência mais comuns e sabermos contra o que vamos lutar, exatamente. Mas é importante focarmos nos direitos, não somente das mulheres como um todo, mas nas suas peculiaridades: as trans, as lésbicas e as negras.
Programação – Dia Internacional da Mulher
Ciclo de palestras nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras)
Tema: Lei Maria da Penha e violência doméstica
07/03 – Terça-feira
8h – Panfletagem no semáforo.
9h – Palestra com a psicóloga Giovanna Carrozzino Werneck, especialista em Terapia Comportamental e Políticas Públicas em Gênero e Raça. Tema “Mulher, a culpa não é sua”.
Local: Sala Levino Fanzeres (Praça Jerônimo Monteiro).
Em seguida, visita à Exposição Luz Del Fuego – Sala Levino Fanzeres.
08/03 – Quarta-feira
8h – Atividades em homenagem à Mulher, no Centro de Convivência.
8h – Concentração pela Não Violência Contra a Mulher – Praça Jerônimo Monteiro.
8h30 – Abertura oficial das atividades do Dia Internacional da Mulher e Lançamento da Campanha do Laço Branco – Praça Jerônimo Monteiro.
Exibição de Documentário “Violência Doméstica: Mulher, a culpa não é sua”, produzido pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Semdes).
8h às 11h – Exames HIV, sífilis, hepatite, DST, distribuição de preservativos.
9h às 11h – Aferição de pressão e teste de glicemia, orientação psicológica e jurídica para vítimas de violência.
10h – Apresentação da cantora Duda Felippe
19h – Corrida de Mulheres e Pedalaço pela Vida (passeio ciclístico). As corredoras saem na frente e 10 minutos depois saem as ciclistas – Saída da Praça Jerônimo Monteiro x Praça de Fátima x Retorno em frente à Mestica x Capitão Deslandes e chegada na Praça Jerônimo Monteiro
20h – Requinte Acústico
21h – Apresentação da cantora Valéria Resende.