quinta-feira,
31 de julho de 2025

Agricultura

Exportadores de café seguem enfrentando dificuldades para consolidar embarques nos portos do Brasil

“Em junho, mais de 453 mil sacas do produto não conseguiram embarcar devido ao esgotamento da infraestrutura portuária; país deixou de receber R$ 1 bilhão como receita cambial e exportadores tiveram prejuízo de R$ 3 milhões com armazenagens extras”.

Redação

O Brasil deixou de embarcar 453.864 sacas de 60 kg – equivalentes a 1.375 contêineres – de café em junho de 2025, conforme levantamento realizado pela Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) junto a seus associados. O não embarque se deu em função do esgotamento da infraestrutura portuária no país e, com isso, os exportadores tiveram um prejuízo de R$ 3,002 milhões com custos extras com armazenagem adicional, detentionspré-stacking e antecipação de gates.

Desde junho de 2024, quando a entidade iniciou esse levantamento, as empresas associadas ao Cecafé acumulam prejuízo de R$ 78,921 milhões com esses gastos imprevistos em função de atrasos e alteração de escalas dos navios e da estrutura defasada nos principais portos de escoamento do produto no Brasil.

O não embarque desse volume de café também impediu que o país recebesse US$ 184,183 milhões, ou R$ 1,022 bilhão, como receita cambial em suas transações comerciais apenas em junho deste ano, considerando o preço médio Free on Board (FOB) de exportação de US$ 405,81 por saca (café verde) e a média do dólar de R$ 5,5465 no mês passado. Isso implica menor repasse aos produtores, uma vez que o Brasil é o país que mais transfere o preço da exportação aos cafeicultores, a uma média superior a 90% nos últimos anos.

“A nova safra de café, principalmente de canéfora (conilon + robusta), começa a chegar aos poucos para exportação e, como a estrutura dos portos não teve melhorias, já notamos um aumento de cerca de 100 mil sacas no volume total que não conseguiu embarques na comparação com maio. Esse cenário tende a se agravar, pois a principal movimentação de exportação de café se dá agora neste segundo semestre, com a chegada dos cafés novos, incluindo a espécie arábica”, explica Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.

Segundo ele, é fundamental a adoção de medidas dos setores público e privado, como, por exemplo, celeridade nos leilões de terminais,  ampliação da capacidade de pátio e berço, fomento à diversificação de modais, com investimentos em ferrovias e hidrovias, e, principalmente, a criação de indicadores logísticos que permitam acompanhar e gerir, de forma adequada, as demandas na infraestrutura portuária do Brasil, de forma que os portos evoluam na mesma proporção do crescimento das cargas, tendo em vista o constante avanço do agronegócio nacional, em especial dos produtos que demandam contêineres para exportação, como café, carnes, algodão, açúcar, celulose, entre outros.

“O governo anunciou uma série de investimentos, que, sem dúvida, são positivos, mas que demandarão, em condições normais, pelo menos cinco anos para serem concluídos. O problema é que precisamos de ações emergenciais, que possibilitem melhorias imediatas ou, no máximo, no curto prazo, pois os setores do agronegócio que demandam contêineres seguem evoluindo e demandando cada vez mais estrutura dos portos”, analisa.

Ainda conforme Heron, há uma grande preocupação dos setores que utilizam cargas conteinerizadas por conta da limitação de participação de interessados no leilão do Tecon Santos 10, sem uma devida justificativa ou embasamento técnico e legal. “Isso porque existe a Nota Técnica nº 51, da própria agência reguladora, a ANTAQ, que demonstra que o ‘cenário 3’ apresenta medidas para evitar problemas concorrenciais e de concentração de mercado, permitindo a ampla participação e evitando, assim, que o processo seja judicializado e deixe de ocorrer ainda neste ano”, comenta.

O diretor técnico do Cecafé recorda que o período de entressafra de várias commodities ajudou a reduzir a pressão nos terminais e armadores durante o primeiro semestre de 2025, “contudo, como não houve aumento de capacidade dos terminais portuários, os desafios se intensificarão neste segundo semestre”.

RAIO-X DOS ATRASOS
Em junho de 2025, 49% dos navios, ou 151 de um total de 306 embarcações, tiveram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos do Brasil, conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital em parceria com o Cecafé.

O Porto de Santos, que respondeu por 80% dos embarques de café no primeiro semestre deste ano, registrou um índice de 59% de atraso ou alteração de escalas de navios, o que envolveu 95 do total de 161 porta-contêineres. O tempo mais longo de espera no mês passado foi de 37 dias no embarcadouro santista.

Também no mês passado, somente 7% dos procedimentos de embarque tiveram prazo maior do que quatro dias de gate aberto por navios no porto santista. Outros 60% possuíram entre três e quatro dias e 33% tiveram menos de dois dias.

O complexo portuário do Rio de Janeiro (RJ), o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com 15,7% de participação nos embarques de janeiro ao fim de junho de 2025, teve índice de atrasos de 57% no mês passado, com o maior intervalo sendo de 20 dias entre o primeiro e o último deadline. Esse percentual indica que 34 dos 60 navios destinados às remessas do produto sofreram alteração de escalas.

Ainda no primeiro semestre deste ano, 43% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 37% registraram entre três e quatro dias; e 21% possuíram menos de dois dias.

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