Produtores rurais da localidade de Pedra Azul, na região Serrana do Espírito Santo, tem conseguido plantar morango livre das pragas comuns que atingem a fruta, sem recorrer aos agrotóxicos. Pedra Azul é conhecida pela clima ameno e que favorece a produção de morango. Na fazenda do agricultor Rainor Uliana, a produção de morango é associada ao turismo. Quem visita a propriedade pode colher e compra a fruta.
“Tem domingo que a gente vai almoçar meio tarde, porque vem muita gente que gosta do morango sem agrotóxico”, contou.
Ao todo, são 6 mil pés de morango. Rainor não usa agrotóxico e quase não tem problemas com pragas. O incômodo na propriedade são as formigas e os pulgões. O pesquisador e entomologista José Salazar explicou que a formiga lava-pé no morango está sempre associada ao pulgão.
“Você vai abrir e vai ver que as formigas fazem o ninho em volta do pulgão que está se alimentando da base da planta. O pulgão ataca a planta sugando a base da planta, o cólo da planta que a gente chama. E fica associada ao pulgão a formiga lava-pé. Ela se alimenta das fezes do pulgão e protege o pulgão na base da planta, fazendo o ninho dela no cólo da planta”, disse.
José Salazar indica soluções que não são tóxicas para combater as pragas.”Controlando o pulgão, automaticamente a formiga lava-pé sai do sistema, ela vai embora, porque não tendo o pulgão não tem alimento pra ela. Nesse caso, a gente tem recomendado a calda de sabão, com detergente neutro mais óleo. Faz essa calda e joga um jato encharcando a base da planta para pegar e molhar bem o cólo da planta. O pulgão é controlado dessa forma e a formiga vai embora”, explicou.
O pulgão, ácaro e a broca são as pragas que mais atacam o morango. “A broca pode acontecer também principalmente nos sistemas onde se colhe o morango bem maduro, que é o ideal, e essa broca vai atacar esse morango maduro. E também quando o produtor deixa de recolher os frutos que não vão ser aproveitados. E aí a broca se multiplica, se alimentando desse morango que ficou na roça”.
Para se livrar das pragas, o produtor de morangos Ranoir limpa a lavoura com água. “A limpeza é feita toda semana. A gente tira folha seca, folha amarela, que tiver uma pinta, tudo, tudo que tiver de sujeira no pé a gente tira. A limpeza aqui eu acho que é o essencial da planta”, contou.
Segundo o pesquisador José Salazar, essa limpeza ajuda a combater outra praga mais devastadora, o ácaro. “A água ela entra como um componente para reduzir a população do ácaro. Como o ácaro necessita de uma condição de temperaturas altas e mais seco, quando ele faz esse sistema com água, além de fazer a limpeza, ele também deixa o ambiente mais úmido, o que desfavorece o ácaro rajado.”, explica o pesquisador.
Ele recomenda o corredor ecológico, uma faixa de vegetação entre as lavouras, com plantas que atraem as pragas, para evitar que elas se espalhem na plantação.
“O corredor ecológico ou corredor de refúgio é essa faixa de vegetação entre os plantios onde a gente pode ter uma vegetação espontânea, ou algumas vezes o próprio produtor planta que podem ser atrativas”.
Uma das receitas mais eficientes nesse combate é o biofertilizante. Uma mistura de água, esterco, leite, cinzas, micronutrientes e folhas de caruru, tiririca ou mamona.
“Ele atua como protetor natural para as plantas, ele repele alguns insetos praga, e ele também aumenta a resistência das plantas contra o ataque dessas pragas ou de algumas doenças”, explicou a engenheira agrônoma Hanny Heni Slany.
O biofertilizante deve ser aplicado uma por vez por semana. “Depois que esse material está pronto, tem que ser coado, coloca no pulverizador normal e pulveriza tanto as plantas quanto o solo”, completou.
Perto da propriedade de Ranoir, emuma outra fazenda, a plantação de morango da Angélica e do José Pedro é coberta por uma estufa. Quem usa esse sistema tem que tomar mais cuidados com o ácaro rajado.
“O que favorece o ácaro? Condições de temperatura alta e baixa umidade. Então num sistema desse que está protegido e a tendência é tá num ambiente mais seco, isso favorece a ocorrência do ácaro rajado, que é a principal praga do morango”, explicou o pesquisador José Salazar.
Salazar recomenda o uso do ácaro predador. É a praga que não faz mal ao morango e mata o ácaro.
A dona da propriedade também faz a limpeza da plantação, retirando folhas e frutos doentes. “Eu faço a limpa manual, como a gente não usa nenhum tipo de produto químico, aí eu tiro as folhas que estão manchadas, essas folhas assim mais velha e aí eu vou deixando pra fazer uma nova brotação”, disse Angélica Módulo.
José Pedro usa uma mistura caseira para combater as praga. Feita com arroz pré-cozido, fica 8 dias na mata para ser colonizada por fungos. Depois, o arroz vai para uma garrafa pet com água e açúcar mascavo e fica por mais 8 dias. Em seguida, tudo é misturado em uma caixa d’água com um litro de leite, 2 kg de açúcar e um litro de vinagre.
A produção de morango no Espírito Santo deve atingir uma média de 10 mil toneladas no final da safra. Ao todo, são 250 hectares de plantação, que envolvem diretamente mais de 3.000 agricultores de base familiar. Para a produção orgânica, a área é de 2,5 hectares, envolvendo cerca de 30 famílias.