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Articulista e Analista Político do Portal Notícia Capixaba; Wellington Callegari é servidor do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, professor de História, Geografia e Filosofia e Analista Político |
Precisamos sair do buraco. Falo sobre o Brasil. Falo sobre o Espírito Santo. Falo sobre o Sul do Estado e a Região Serrana. Falo sobre o buraco aparentemente sem fundo em que nos enfiamos. A economia em colapso. Os serviços públicos em frangalhos. Nossa infraestrutura há muito deteriorada. Nossa polícia acuada e o clima de violência e barbárie em que vivemos. Escândalos de corrupção sobre escândalos de corrupção, a ponto de muitos dizerem que ninguém escapa do “mar de lama”. Sim, precisamos sair do buraco. Urgente. Por nós. Por nossas famílias.
O atual buraco em que nos enfiamos possui causas profundas em nossa história, cultura, sociedade e política. Tão profundas que não haveria aqui espaço para discuti-las todas. Embora o poder público não seja o ÚNICO culpado da crise, me parece claro que possui um papel preponderante na mesma. Basta lembrar que quase 40% dos recursos das famílias brasileiras são drenados pela União (que fica com a parte do leão), estados e municípios. É muito dinheiro. O Estado Brasileiro é o maior empregador do País, com quase vinte milhões de funcionários diretos e indiretos. É muito poder. O estado brasileiro controla a maior parte da educação, da saúde e da produção cultural e é o único ser responsável pelas normas que regulam obrigatoriamente nossa economia e sociedade. Esse poder também é visível em nossos Municípios, onde as Prefeituras são as maiores empregadoras de mão de obra e verdadeiros centros de poder e status social. Em municípios com menos de 50 mil habitantes, controlar a máquina publica significa projeção econômica e social muito acima de qualquer outra força local. Infelizmente, esse “poder” tem ficado tempo demais nas mãos dos mesmos grupos, os quais se revezam no jogo político de “situação x oposição” há pelos três décadas em nossas pequenas cidades. Se revezam sem, entretanto, alterarem realmente a forma de fazer política.
Vejam o exemplo de Vargem Alta, onde de forma tediosa, dois grupos políticos se alternam no poder desde a emancipação, e onde o atual prefeito foi simplesmente o PRIMEIRO prefeito da cidade entre 1989-1993. Não se trata de dizer se o prefeito é bom ou ruim, mas será que nesses 23 anos, o município não foi capaz de produzir nenhuma outra alternativa política ao predomínio do grupo de Eliezer Rabelo (que ficou cansativos 12 anos no poder, direta ou indiretamente) que não fosse voltar ao passado longínquo, com João Altoé? O mesmo aconteceu em Castelo com o retorno do “bom e velho” Piassi de sempre. E em Cachoeiro, onde o descrédito cada vez maior do atual prefeito já está ouriçando os petistas de Casteglioni e os saudosistas de Ferraço? Aliás, o próprio Vitor Coelho, que ingressou na política sendo “novidade”, está se revelando apenas mais do mesmo, com a mesma falta de originalidade e até com os mesmos colaboradores de gestões passadas. Compreendem nosso dilema? Não bastam apenas “nomes” e “caras” novas, se esses novos “rostos” dizem e fazem sempre mais do mesmo. E que mesmo é esse? Assistencialismo barato com distribuição de cimento e sextas básicas. Empreguismo sem vergonha, que lota as exauridas prefeituras com funcionários que foram e/ou serão os cabos eleitorais. Exibicionismo escroto com shows e festas bancadas por dinheiro público e que só deu uma relativa trégua agora por conta da crise financeira, mas que promete voltar com tudo ao menor sinal de dinheiro no cofre. E por aí vai.
Que o Brasil precisa urgentemente de uma renovação da classe política, todo mundo sabe. Mas também nossas pequenas prefeituras precisam desesperadamente de uma renovação de homens e principalmente, de ideias e ações. Até porque, se isso não ocorrer o mais breve possível, o fosso econômico que já existe entre nossa região e outras do estado, promete se alargar. Talvez o caminho seja o de olharmos mais para fora, em busca de soluções que deram ou estão dando certo fora de nosso estado, como a militarização de escolas públicas em Goiás, o Corujão da Saúde de Doria, em São Paulo, ou mesmo a iniciativa de corte de gasto para o Carnaval adotada por Crivela no Rio de Janeiro.
Por que não tentar produzi-la em nossa região? Precisamos entender que qualquer mudança real e duradora em nosso País, deverá ocorrer a partir de uma renovação de cima para baixo.