Por Giovana Schneider
Há uma história que na Vila de Marechal Floriano, no século passado, alguns indivíduos se recuperaram da tuberculose, enquanto outros, lamentavelmente, não tiveram a mesma sorte.
Tuberculose: o mal dos poetas atravessa séculos.
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos,
A vida inteira que poderia ter sido e não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico.
Diga trinta e três.
Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
Respire
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo
e o pulmão direito infiltrado.
Então doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Manuel Bandeira. Pneumotórax, 1966)
Os versos de Manuel Bandeira, poeta modernista e tísico, é um dos exemplos mais emblemáticos de como a tuberculose permeou a produção literária brasileira na primeira metade do século XX. O diagnóstico de infecção pelo bacilo de Kosh, anterior ao desenvolvimento quimioterápico eficaz contra a doença, era uma sentença de morte e vitimou intelectuais, literatos, poetas e artistas ao longo da história; nomes como Castro Alves, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu, mortos aos 20 anos por causa da enfermidade.
A experiência vivida da enfermidade chega até nós em versos e prosa, através de relatos amargos, pessimistas, sarcásticos, melancólicos, ironizando a morte iminente e não menos comum, romantizando o sofrimento, ao qual se atribuía a inspiração de poetas e escritores, a “febre das almas sensíveis”.
A romantização da condição tuberculosa pela elite intelectual, contrastava e, de alguma forma, silenciava as altas taxas de mortalidade que acometia a população mais pobre.
Fonte: Arquivo Nacional
Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos

Foto de Marechal Floriano da década de 30. Antiga praça da Estação. Original pertence à Oberdan José Pereira.
Marechal Floriano, sempre se destacou pelo seu clima ameno e agradável, e muitas vezes descrito como o terceiro melhor do mundo. Essa característica seguidamente atraia, e atrai ainda vários visitantes, também alguns se tornaram moradores em busca de uma boa qualidade de vida.
No passado, quando ainda era conhecida como Vila de Marechal Floriano, muitas pessoas, especialmente aquelas que sofriam de doenças respiratórias, viam no clima condições propícias para a recuperação da enfermidade. Há relato, como o compartilhado pelo neto da Dona Biluca, Geraldo Abreu Filho, que menciona a cura de caso de tuberculose, evidenciando o poder terapêutico do local: “Viveu até os 93 anos, lúcida e com saúde física boa.”

Glaphira Abreu (Biluca)
Casada com o comerciante João da Silva Abreu. Uma senhora religiosa, onde seus netos têm documentos comprovando que foi na residência de Glaphira que começou os primeiros movimentos de Canonização do Santo José de Anchieta. Ajudou muitas famílias em Marechal, encaminhados a empregos, serviços de saúde, através de sua filha, muitos foram atendidos em hospitais em Vitória, capital do ES, ajudou meninos a ingressar na Escola técnica de Jucutuquara, bairro da Grande Vitória.
Segundo o seu neto, Geraldo Abreu Filho — “Quando ela se mudou para Marechal Floriano foi na Década de 1930, para se tratar de uma Tuberculose, e se curou em Marechal, daí a ligação e dedicação, além de ajudar a muitas pessoas da cidade, também se tornou uma forte compradora de produtos da região, despachando pelo trem para Vitória onde o meu avô, João da Silva Abreu, mantinha seu comércio de Secos e Molhados. Ajudava também encaminhando pessoas para hospitais, era por conta da excelente relação com o Senador Jeff de Aguiar e a minha tia Monsuetta que era médica na Santa Casa De Misericórdia.”
Foi uma pessoa querida e amada por muitos Florianenses.

Um outro exemplo é o do artista plástico Ricardo, que produziu algumas obras durante seu período em Marechal Floriano. Dona Marluce Carreiro Merísio, que tem 88 anos e é natural de Marechal Floriano, contou que ele veio do Rio de Janeiro em busca de tratamento para a tuberculose, mas não soube informar o seu nome completo, e se ele de fato se recuperou.
Além da tela mencionada acima, existem outras obras dele na cidade. Dona Marluce também mencionou que havia outras pessoas que chegavam de trem, oriundas do Rio de Janeiro e de outras localidades, e permaneciam aqui para o tratamento da tuberculose.
A tela acima, foi pintada em 1944 e retrata dois momentos de Marechal Floriano segundo Jair Littig: “Este quadro é uma apologia que devia estar num lugar seguro. Representa o antigo da Vila do Braço do Sul com imagens das primeiras casas construídas dentro da Vila, e o outro lado casas construídas pelo Belarmino Pinto”. Baseado numa fotografia de uma enchente de 1917 do fotógrafo João Endlich.

No registro acima, chegando na Vila de Marechal Floriano, ano de 1962, não havia asfalto na época, atualmente é a BR 262. Acervo Jair Littig
Em Marechal Floriano e nas redondezas residem outras histórias a respeito da tuberculose. Tem do Gustav Fischer e do Pedro Denélli e outras histórias que vou falar na próxima postagem. É muito importante saber o que aconteceu no lugar em que vivemos, pois, um povo com história não pode ser um povo sem memória.
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Respostas de 2
Giovana meus parabéns, que relato maravilhoso- que Deus te abençoe sempre!
Eu ainda não tinha visto, meu amigo Anselmo Tosse, Ex Secretário Estadual da Saúde que me enviou,
ganhei o dia com a leitura dessa História maravilhosa,
Anselmo enviou tbm para mim. Sempre atento às boas notícias e faz questão de divulgar.