“Hartung diz que o desafio dos novos prefeitos será o ajuste fiscal”
Um dia antes das eleições municipais, o governador Paulo Hartung (PMDB) fez um alerta aos novos prefeitos que serão eleitos para o próximo mandato. Segundo o peemedebista, a crise financeira não está superada, voltou a lembrar que o cobertor ainda está curto e, durante a entrevista ao Folha Vitória, fez questão de frisar a necessidade de um ajuste nas contas para superar as dificuldades financeiras que ainda atingem o país. Ainda na entrevista, o chefe do Executivo capixaba falou sobre sua participação no processo eleitoral e como deve se comportar em um eventual segundo turno em municípios onde aliados disputam com seus adversários.
Confira a entrevista na íntegra da Folha Vitória:
Folha Vitória: Passado o processo de impeachment e com as eleições na reta final, como o senhor avalia o cenário político nacional daqui para frente?
Paulo Hartung: O país veio por um caminho errado. Nos encantamos com o intervencionismo governamental que levou a gente para essa encrenca toda. A perspectiva do país agora depende da retomada do caminho correto na área de políticas públicas. Primeiro reorganizar as contas, recuperar a confiança externa e interna para que isso traga o investimento, o emprego, o crescimento da arrecadação e a melhoria na renda das famílias. O ajuste é de alto interesse do povo. Isso vai acontecer? Isso que vamos vivenciar nos próximos meses. Depende de o Congresso votar as coisas que precisam votar, depende do diálogo com a sociedade. Esse é o desafio. Vai acontecer? Estou trabalhando para que aconteça.
FV: Na sua avaliação, o novo governo liderado por Michel Temer vai conseguir em dois anos recuperar o desenvolvimento em meio à crise política e econômica que o Governo enfrenta?
PH: O tempo é absolutamente suficiente e o ambiente que temos é propício para as mudanças. Não tem mais como empurrarr com a barriga os problemas.
FV: As contas do Governo Federal estão com um rombo de R$ 71 bilhões. É possível reverter esse caos e retomar o crescimento econômico do país em dois anos de mandato do presidente Michel Temer?
PH: Acredito que temos como reverter. Mas temos que trabalhar esse caminho. Não tem como mais pedir para empurrar para frente esse problema. Nesse quadro também não dá para achar que um grupinho vai ser a salvação. Nós precisamos ter a capacidade de mudar de direção. Ambiente e tempo temos.
FV: Diante desse cenário o senhor acredita que a população está desacreditada na classe política?
PH: Toda eleição é muito importante para a democracia. Uma eleição local é extremamente importante. Por que essa eleição está tão fria? Tem pessoas que nem sabem que vai ter eleição domingo, não sabem quem são os candidatos. É a combinação de uma crise econômica brutal, crise ética de graves proporções e crise política. Esse conjunto gera o desinteresse. O povo sabe o que está acontecendo no país. Ai vê as propostas de alguns candidatos que são inviáveis. Isso aumenta o desinteresse. Mas aconselho as pessoas a votar, escolher melhor e ter força para melhorar o país.
FV: Qual será o desafio dos novos prefeitos que serão eleitos para o próximo mandato?
PH: O desafio que vão ter é fiscal. Manter equilíbrio se ele existir ou reconquistá-lo com criatividade. Isso é um baita desafio e ninguém está falando isso na campanha. O cobertor está curtíssimo e com inovação podemos fazer políticas públicas que melhore a qualidade de vida da sociedade. O prefeito não pode tomar posse e achar que o bico do avião já está subindo.
FV: Os prefeitos, nesse período de crise, esperam uma participação maior do Estado. Vai dar para ajudá-los?
PH: No que for possível a gente vai apoiando os municípios. Retomamos o programa Caminhos do Campo, por exemplo. São pequenas obras que impactam positivamente no interior. Estamos com um programa novo de barragens, Escola Viva temos cinco e possivelmente vamos para 15. Dia 4 abre a licitação da primeira intervenção para o Hospital Geral de Cariacica. Em todas as áreas vamos ter parceria. O que não tem agora é dinheiro para fazer transferência voluntárias. No que depender do nosso governo todas as cidades serão ajudadas. É um pão, são muitos filhos e estamos tentando dividi-lo para que o Estado mesmo em época de crise tenha desenvoltura. O que não adianta é fazer promessismos em campanha e depois tentar se pendurar no governo.
FV: O senhor disse que ninguém encontraria suas digitais na campanha eleitoral desse ano, mas já participou de programa eleitoral em Vila Velha e atividade de campanha em Aracruz. O que mudou?
PH: Não mudou nada. Eu não estava articulando candidatura. Quando o Luiz Paulo deixou de ser candidato caiu a ficha de todo mundo que eu realmente não estava nesse processo. Deixei o jogo ser jogado. Há municípios que têm quatro, três, dois aliados. Viajei durante a campanha. [na época] falei que não podia dizer dessa água não beberei porque ninguém governa sozinho. Brinquei que estou quase invicto, nunca vi um governador participar tão pouco do processo eleitoral.
FV: Em um eventual segundo turno o senhor pode ter uma participação mais efetiva para manter seu grupo político no poder, já que dois dos seus aliados em Vitória, por exemplo, podem disputar com seu adversário, que é o prefeito Luciano Rezende?
PH: Nem maior, nem menor. Vou conversar e ouvir. Essa é uma construção que não se faz sozinho. O importante é seguir em frente e ter clareza do quadro que estamos vivendo. Está difícil especular. É uma eleição gelada, um desinteresse brutal, isso gera volatilidade. A única pesquisa que será boa é quando proclamar domingo o resultado. Não estou dizendo que os institutos estão errando ou acertando, pode dar de tudo, pode ter manipulação de pesquisa. Mesmo quem não quer manipular está com dificuldade de captar esse sentimento de chegada da campanha.
FV: Mas então não está descartado o senhor participar mais ativamente do processo eleitoral no segundo turno?
PH: Tem que esperar o resultado. Tem que ter paciência. É uma eleição com característica diferenciada. Sempre disse que uma eleição não leva a outra. Vamos supor que o cara ganha a eleição, faz uma coletiva todo empolgado e senta na cadeira de prefeito. Ai a realidade cai. Olha a rapidez que a presidente Dilma perdeu o prestígio. Aí você me pergunta de grupo político, oposição, isso tudo ou é soma zero ou soma negativa. Não leva a nada. O que leva é a capacidade de cada um enfrentar essa situação difícil. Quando chegar em 2018 vamos colocar o César [César Colnago, o vice-governador] nessa cadeira [no período de desincompatibilização, já que Hartung garante que não irá disputar a reeleição e deve concorrer a cargo em Brasília]. E aí as forças políticas vão encontrar outros arranjos.
FV: Já está preparando o sucessor ou a sucessora?
PH: Vários… Estamos com uma equipe boa. [Ana Paula Vescovi] é qualificada e se ficasse aqui seria cogitada, os capixabas gostam muito dela. Temos nomes maravilhosos, um vice muito capaz, um senador que está indo muito bem, que é o Ricardo Ferraço. Na bancada federal também temos quadros. É preciso mudar.
FV: Amanhã os capixabas vão para as urnas escolher os seus representantes. Que mensagem o senhor deixa para os eleitores?
PH: Minha mensagem é de otimismo. Acredito muito no Espírito Santo. Dou razão ao povo que está desacreditado, mas peço para que não nos falte a razão. Só se melhora elegendo gente melhor. Toda eleição é uma oportunidade de consagrar quem está fazendo certo, dar cartão vermelho para quem está fazendo errado e abrir as portas para que novas lideranças surjam. A renovação faz bem à política.